quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Paranoá o índio apaixonado

Ele vivia só, na imensidão do Planalto, ora andando entre o cerrado, ora entre a floresta densa. Jaci, a lua, muitas e muitas noites vinha iluminá-lo, ungindo de tons prateados sés corpo másculo. Amava-o. Paranoá, porém, parecia insensível e distante. Queria "a que havia de vir". Quando curumim, um dia dela falara-lhe o velho pajé:- Guardarás teu amor, tua força, teus desvelos, o melhor de tua caça, à bela que Tupã te destinou.Paranoá crescera, esbelto e ágil, fazendo-se magnífico guerreiro. Descendia dos tapuias, mas sua nação desaparecera e somente ele permanecia, à espera "da que havia de vir". Lembrava-se que o pajé dissera-lhe que sua amada anunciaria sua vinda nos ecos da floresta.Paranoá esperava, ora o ouvido pegado ao chão, ora o olhar estendido na planura, sem nunca perceber que quando maior era a solidão, Jaci reaparecia.Certa tarde, a mata estremeceu. Os ruídos foram-se avolumando. Trovões pareciam ter descido à terra e tudo entrava em convulsão, multiplicando-se os sons, como se a floresta tombasse aos golpes de muitos machados.- É ela! - exclamou Paranoá, pondo-se alerta.Sim, era ela. Uma figura alada, fulgurante e bela, mil vezes mais bela que as mulheres de sorriso moreno que conhecera em sua tribo. A paixão aprisionada durante a espera transbordava agora em ímpetos incontroláveis. Ante o deslumbramento de Paranoá, a figura excelsa estendeu serenamente as asas, como a querer acolhê-lo.- És tu a anunciada do pajé? - perguntou Paranoá.- Sou. Vim para que não vivas mais só. - disse ela - Eu sou Brasília!Então, Paranoá, abrindo os braços, fremente de emoção, correu para cingi-la.Jaci, entretanto, espreitava. Ela, que o acalentara durante a solidão, embora conformada com sua indiferença, sofria agora, ao perdê-lo para sempre. Quis vê-lo uma última vez e sua luz refletiu-se nos olhos do guerreiro. Paranoá deteve-se, num estremecimento. Pela primeira vez, contemplou a meiguice de Jaci e a suave tristeza de sua luz. Só então compreendeu que amava Jaci e hesitou. Ante sua vacilação, Tupã irritou-se, condenando-o à imobilidade e convertendo-o num lago, de braços sempre abertos, sem jamais alcançar aquela por quem tanto esperara.Jaci condoeu-se de Paranoá e, tangida pelo remorso, refugiou-se atrás de uma nuvem. De quando em vez, Jaci volta. Demora-se sobre o lago e, como a penitenciar-se de sua culpa, cobre de prata a sua superfície, ao mesmo tempo que inunda Brasília de luz. E cada vez Jaci regressa chorando orvalho e mentindo às estrelas, dizendo que assistiu às núpcias de Paranoá e Brasília

domingo, 7 de setembro de 2008






A amizade entre uma menina e um lápis é o fio condutor desta bela história,que de forma lúdica faz uma crítica a todo tipo de preconceito.Vale a pena conferir...